06/10/2020 às 18:06

Meu primeiro ensaio sensual

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Ela me deu um frio na barriga.

Não na hora de fazer as fotos, mesmo sendo o segundo ensaio. Mas depois de ter enviado para avaliação, quando houve um longo silêncio. Um silêncio que me fez ter dúvida em continuar. Depois disso, veio o textão (que reproduzo abaixo), e a certeza que mesmo no começo, não errei tanto assim, e que o propósito inicial dessa ideia vem ganhando força.

(Leia, tenho certeza que irá tirar todas as suas dúvidas em fazer ou não um ensaio assim)

O CorpoPor Jaq Gimenes

O corpo é só um corpo. Sagrado para uns. Objeto de objetificação para outros. Mas o corpo é um corpo; são pernas, braços, peitos e bunda. É pele. é pelo. é marca. É a morada que nos permite pôr em prática a virtualidade do nosso ser. Ainda que possamos viver muitas coisas apenas em nossa mente é através dele que experimentamos as delícias e as dores de viver. É com ele que nos relacionamos e é com ele que muitas vezes dizemos o que as palavras não conseguem.

Eu tinha 12 anos de idade, quando entendi que meu corpo era um objeto de desejo. E eu tinha muito menos quando percebi, através de um desenho, o que era uma mulher sensual. Desde então, Jessica Rabbit, habitou meu imaginário (e devo confessar ajudou a construir parte do meu ser, aquela que eu ouso mostrar para pouquíssimas pessoas). Mas naquela época foi muito difícil entender como alguém que estava longe de se parecer uma Jessica Rabbit poderia despertar desejo em outro alguém.

E pro bem ou pro mal, eu fui entendendo que cada corpo é um corpo. E que eles não precisariam necessariamente serem iguais, ou inalcançáveis e assim desde muito nova eu fui me reconhecendo e me desejando. Vendo a beleza de ser real e não sofrer com a pressão que é imposta, sobretudo para a mulher, sobre essa busca pelo corpo “perfeito”.

Mas isso não significa que ficou tudo bem, são mais de 20 anos refletindo e construindo essa personalidade corpórea e ali no início da vida adulta, você pensa que “é madura demais pra se importar com as coisas do corpo” e aquilo que era pra ser uma jornada de esclarecimento, se torna uma jornada de exclusão. Quando você passa a praticamente negar a existência do corpo, não num viés religioso, que vê tudo que é do corpo como algo proibido e pecaminoso. Mas com um olhar de superioridade e arrogância, própria dos jovens, por acreditar já saber de tudo. E assim crer que tudo que está ligado ao corpo habita o lugar do fútil, inútil. E foi aqui onde eu fui pega. Travestido de discreta e reservada, eu me valia da minha postura para julgar a exposição do corpo do outro.

É uma violência sutil e cruel a que a gente sofre, sem perceber, pois ao tentarem nos desmembrar, separar o corpo e a mente, ao atribuir tudo que é nobre, culto, elevado no campo da mente, e tudo que é torpe, fútil, inferior ao corpo. É como se dissessem que não podemos ser inteiros, que não temos a capacidade de habitarmos os nossos seres por completo. É querer marginalizar algo que é natural, o que é vivo. Esse pensamento de dizer que o corpo é só uma carcaça, nos leva a uma relação prejudicial com nós mesmos, como se ele não importasse, como se ele tivesse um valor menor. Precisamos tomar de novo o nosso corpo pra gente, tomar consciência dele, de que ele é nosso, é bonito, único e comum ao mesmo tempo. E assim, tornar o mundo um lugar onde seja possível que cada um se sinta confortável em suas próprias peles.

Que a gente aprenda a gostar dos nossos corpos e respeitá-los, sobretudo o corpo feminino que é usado como forma de domínio nesta sociedade patriarcal, entender que ele não é um objeto, mas que isso não significa que ele não pode ser desejado, pois ele pode. A sedução nos precede, mas ela deve acontecer de uma maneira saudável, é um querer por completo. E entender que coberto ou descoberto, gordo ou magro, preto, pardo, branco, com marcas, pigmentos, PELOS, silicones, celulites, tatuados, malhados ou molenguinhos ele deve satisfazer primeiro a você mesma e a mais ninguém e que não há pecado algum em se sentir e se exibir, e mostrar o seu corpo do jeito que ele é, da mesma forma que mostramos nossa personalidade; pois a vulgaridade não está no corpo, mas na obscenidade daqueles que não respeitam a vida.

Liberdade aos corpos em todas as suas formas. Sejamos livres, sejamos inteiros. Pois um corpo é uma pessoa, é gente. é afeto, é amor, é vida.

Toda essa minha reflexão e experiência só foi possível através do olhar do meu querido amigo e fazedor de bolo instantâneo de microondas @rodrigo_mattjie que está se jogando nesse lugar maravilhoso que é a arte através da fotografia. Foi divertido, (é claro que o ensaio contou com os toques especiais das minhas yulas @mariha_wine @igorelenciuc ) brigadão.

06 Out 2020

Meu primeiro ensaio sensual

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